A atividade agropecuária e desenvolvida em algumas regiões desérticas

A cidade de Bragança, ao norte de Portugal, espera, para outubro deste ano, quando sedia o evento internacional Mountains 2016, estudiosos, agricultores e outros atores que possam partilhar experiências e discutir soluções para o desenvolvimento sustentável dos ambientes de montanha, com base na ciência, no conhecimento e na inovação. 

Esses ambientes são classificados segundo critérios de altitude, relevo relativo e declividade. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera que a elevação precisa estar a pelo menos 300 metros acima do relevo médio circundante, considerando o raio de sete quilômetros. No Brasil, ainda não há consenso na classificação das montanhas.  

Ambientes de montanha são ricos em fauna e flora, abrigam nascentes da maior parte dos grandes rios, ocupam um quarto da superfície terrestre e são a base direta do sustento de 12 por cento da população mundial, segundo dados também das Nações Unidas. 

São, por outro lado, considerados vulneráveis a mudanças climáticas, processos de desflorestamento, instabilidade geológica e práticas agrícolas não adequadas que, por sua vez, podem levar a inundações, deslizamentos de terra, erosões e perda da fertilidade dos solos, com severas consequências sociais. Por isso, requerem maior rigor no estabelecimento de critérios de planejamento das ocupações humanas e das atividades produtivas. 

As próximas matérias abordam o que a pesquisa agropecuária brasileira tem feito para a sustentabilidade da agricultura nas regiões montanhosas do País.  Aqui, os ambientes de montanha concentram uma significativa e dinâmica produção agropecuária, como é o caso da Região Serrana Fluminense, cujas altitudes podem chegar a 2.366 metros no seu ponto mais alto. O desafio, no local, tem sido encontrar formas de conciliar produção agrícola e sustentabilidade, principalmente depois da tragédia de 2011.

O pesquisador Renato Linhares de Assis, da Embrapa Agrobiologia, alerta sobre a necessidade de políticas e ações que considerem os ambientes de montanha como um contexto integrado e criem condições para que as populações produzam adequadamente e vivam com qualidade de vida. 

Assim, no caso da pesquisa agropecuária, a adaptação de técnicas e a busca de novas soluções têm seguido premissas voltadas à conservação dos recursos naturais, à qualidade da produção local e às possibilidades de novos mercados que reconheçam o valor da produção dessas regiões.

Serra Fluminense: os solos após uma tragédia 

Chuvas torrenciais atingiram em janeiro de 2011 a região serrana do Rio de Janeiro. Enchentes, quedas de barreiras, deslizamentos e transbordamentos de rios e riachos, no que é considerado um dos maiores desastres naturais do País, deixaram centenas de mortos, feridos e desaparecidos e impactos significativos nos campos e nas cidades da região.  Cinco anos depois, pesquisa da Embrapa Agrobiologia, em uma das áreas de lavoura mais afetadas, no Município de Nova Friburgo (RJ), constata que não houve perda de nutrientes do solo, mas o depósito de sedimentos trazidos pela enxurrada por pouco não transformou aquela localidade num grande areal. 

O estudo avaliou as características do solo de uma área de 11 hectares no distrito de Campo Coelho, um dos mais atingidos pela tragédia. A área específica do trabalho apresenta elementos representativos dos problemas na região e servirá de modelo para novas ações. "A ideia é poder orientar os agricultores quanto à adoção correta de práticas de manejo do solo e assim diminuir o impacto nas áreas vulneráveis a acidentes ambientais", explica a pesquisadora Adriana Aquino, daquele centro de pesquisa. 

Após aquele janeiro de 2011, na tentativa de retomar sua produção, os agricultores manejavam as lavouras com doses elevadas de fertilizantes sintéticos e cama de aviário (composto orgânico formado por substratos agrícolas, a exemplo de serragem e casca de arroz, usado no piso dos aviários, e por dejetos e penas das próprias aves), mas ainda assim não conseguiam produzir ou não alcançavam a mesma produtividade de antes. Os pesquisadores constataram que os resultados das análises de fertilidade dos solos não mostravam um padrão definido, pois subestimavam ou superestimavam os teores de nutrientes no solo.  

Mesmo em áreas onde os resultados indicavam altos teores de nutrientes havia problemas. As lavouras de hortaliças dos agricultores familiares ali instalados apresentavam produtividade bastante irregular, apesar do uso acentuado de adubos. "Ficou claro que não bastava recuperar a fertilidade química dos solos, mas também a fertilidade física e biológica", argumenta Aquino. Para iniciar essa recuperação, foi preciso fazer uma avaliação dos atributos químicos, físicos e biológicos daquele solo. 

O estudo teve por base 800 amostras de solo, coletadas em 105 pontos distintos, durante aproximadamente quatro anos. O engenheiro-agrônomo Fábio Rizzo, responsável pelas análises das características físicas e químicas, explica que em algumas áreas foram encontrados 700 gramas de areia por quilo. "É tudo muito heterogêneo, com uma variação enorme tanto na textura quanto na densidade e na granulometria. A área mais baixa do terreno que recebeu mais sedimentos é bastante arenosa, enquanto a parte superior concentra um solo argiloso", explica Rizzo, bolsista de doutorado da Embrapa Agrobiologia e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

De acordo com Rizzo, apesar de existirem "ilhas de sedimentos" bastante grosseiros na área, o solo não é pobre. "Há pontos, por exemplo, com alta concentração de fósforo e carbono, importantes nutrientes para a lavoura e o solo", comenta. Para chegar a todos esses dados e indicar especificamente as características e a variabilidade do solo, foram utilizadas ferramentas de geoestatística que permitiram o cruzamento e o agrupamento por similaridade de informações como relevo, vegetação e histórico de uso da área. 

A atividade agropecuária e desenvolvida em algumas regiões desérticas
O resultado desse estudo está concentrado em 31 mapas que já estão servindo de base para a indicação e adaptação de técnicas sustentáveis para aquela região. O pesquisador Ednaldo Araújo, da Embrapa Agrobiologia, explica que, após a caracterização, os cientistas buscam entender qual a variabilidade e fazer recomendações específicas para cada parte da lavoura. Segundo Araújo, a pesquisa busca técnicas que permitam a recuperação mais rápida do solo e que garantam sustentabilidade ambiental e retorno econômico aos agricultores. 

Uma vez que já se conhece as características físicas e químicas, é possível readequar o manejo do solo e obter boa produtividade com menor custo. Ednaldo Araújo alerta para o fato de que, se os produtores continuarem colocando adubo indiscriminadamente, o excesso de nutrientes, principalmente o nitrogênio, pode contaminar o lençol freático por meio da lixiviação. "É importante usar a quantidade adequada para não haver perdas e contaminar os recursos naturais, além de ser um gasto desnecessário", explica.

Deficiência de carbono
Para as áreas apontadas com deficiência de carbono, em vez de altas doses de adubo, os pesquisadores estão avaliando o uso de plantas que acumulam esse nutriente na própria área, como as leguminosas e as gramíneas. "Por serem plantas rústicas, as gramíneas, por exemplo, conseguem penetrar no substrato e aumentar a porosidade, fazendo com que a área degradada se recomponha mais rapidamente", revela Renato de Assis, da Embrapa Agrobiologia.

Os pesquisadores também estão avaliando o uso diversificado de plantas para recuperar o solo. Já é de conhecimento da ciência que, ao utilizar apenas uma única espécie, os nutrientes do solo saem somente de uma camada, enquanto com a diversificação são exploradas diferentes camadas, evitando a perda. "A intenção é ver o quanto se consegue ganhar nas áreas onde houve modificação do solo", comenta Assis. 

Entre as estratégias que vêm sendo estudadas e propostas, o plantio direto e o uso de cobertura do solo são formas de reduzir o escoamento superficial e o arrastamento de material das áreas produtivas. Algumas espécies já conhecidas estão sendo testadas e avaliadas no campo, como a aveia-preta, que apresentou boa adaptação às condições agroambientais e vem contribuindo para a reconstrução da fertilidade nas áreas que apresentam alto teor de areia. Os estudos agora estão voltados para identificação da época ideal de corte da gramínea de forma que não interfira no aporte de biomassa. 

Visando diversificar o uso dessas plantas de cobertura na região, os pesquisadores também estão testando diferentes espécies de leguminosas. Uma dessas leguminosas é o tremoço, que além de ser adequada ao cultivo de inverno, época em que há maior disponibilidade de área, é uma planta que agrega bastante matéria orgânica no solo e incorpora nitrogênio ao sistema. 

Qualidade do solo atestada por seus habitantes

Minhocas, gongolos (piolho-de-cobra) e formigas são alguns seres vivos que compõem a fauna do solo. Considerados ótimos indicadores de qualidade, os pesquisadores também estão estudando o comportamento desses e outros pequenos animais presentes na área produtiva de Campo Coelho para comparar as áreas impactadas com as que estão sendo manejadas com adubo verde e cultivo mínimo. 

De acordo com a bióloga Sandra Lima, bolsista de pós-doutorado da UFRRJ e da Embrapa, resultados preliminares indicam que a fauna está se recuperando. "Os valores de diversidade já estão compatíveis com áreas de florestas próximas", comenta a bióloga. Ela acredita que o cultivo da aveia-preta em algumas lavouras está refletindo de forma favorável sobre a fauna. 

Lima explica que alguns grupos de organismos que formam a fauna do solo participam diretamente de processos que contribuem para a sua qualidade, como a fragmentação de resíduos vegetais, relacionada com a decomposição e ciclagem de nutrientes. Por outro lado, outros grupos podem influenciar diretamente na estrutura do solo por conta de suas atividades como a construção de ninhos e galerias. Por isso, é tão importante manter uma fauna bastante diversificada. "O monitoramento nos permitirá conhecer a diversidade de organismos e sua contribuição para melhorar a qualidade do solo", complementa a bióloga.

Nesse estudo, iniciado em 2015, estão sendo avaliados ainda os agregados do solo. Trata-se de componentes da estrutura do solo de grande importância para a porosidade e aeração, como, por exemplo, as fezes das minhocas, chamadas pelos cientistas de coprólitos. A especialista explica que esses agregados têm um papel importante na conservação do carbono no solo e por isso é fundamental conhecer sua origem e mantê-los ali.  

Os agregados podem ser fisiogênicos, aqueles formados a partir da influência dos fatores de ordem física, química e da adição de matéria orgânica, ou biogênicos, formados por processos originários da atividade da macrofauna do solo. Em uma próxima fase do estudo, serão coletadas novas amostras de solo que serão analisadas com uso de infravermelho, o que vai permitir identificar qual o organismo da fauna foi o responsável pela produção dos agregados. 

Sabe-se que algumas práticas favorecem a manutenção de pequenos seres vivos no solo, enquanto outras são danosas para a diversidade. A especialista revela que todas as áreas da pesquisa são cultivadas com aveia-preta, com diferentes tempos de adoção. "Ao final do estudo pretendemos aferir qual a contribuição do uso desse adubo verde na promoção da diversidade de organismos da fauna do solo", finaliza. 

Inteligência territorial

Por Graziella Galinari

A Embrapa Monitoramento por Satélite vem planejando, junto à Embrapa Agrobiologia e Agroindústria de Alimentos, a elaboração de um projeto especial voltado para a agricultura de montanha, que será proposto no âmbito da Empresa e que poderá ganhar ainda a participação da Embrapa Uva e Vinho, Embrapa Solos e Embrapa Caprinos e Ovinos. O foco principal será a estruturação de um Sistema de inteligência Territorial para a Agricultura de Montanha do Brasil a partir de informações sobre os quadros natural, agrário, agrícola, socioeconômico e de infraestrutura, entre outros, e suas interseções temporais e espaciais. A perspectiva da inteligência territorial vislumbra o processo de desenvolvimento na escala territorial, considerando essas múltiplas dimensões. 

Os Sistemas de inteligência Territorial Estratégica (Site) são estruturas dinâmicas, que permitem a inclusão de dados em diversos níveis territoriais, a atualização e o cruzamento entre os planos de informação disponíveis. Essa visão integrada e multifatorial favorece a contextualização e a análise integrada das situações territoriais e a geração de cenários evolutivos. 

De acordo com Lucíola Alves Magalhães, supervisora do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Embrapa Monitoramento por Satélite, o Site previsto para o projeto especial permitirá definir uma proposta de delimitação e qualificação territorial da agricultura de montanha, a exemplo do que foi realizado para a região geoeconômica do Matopiba, contribuindo para a construção de cenários, a definição de estratégias voltadas à exploração sustentável desses ambientes e a modelagem de políticas públicas de forma coerente, convergente e harmônica, em bases territoriais. Por meio do Site, os diversos territórios diferenciados que compõem a agricultura de montanha serão detectados, identificados, qualificados, cartografados, quantificados e monitorados. 

Para Renato Linhares de Assis e Adriana Aquino, pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, o trabalho é pioneiro e fundamental para que o País conheça a real extensão e localização dos seus ambientes de montanha e tenha claro o mapeamento do uso desses espaços. "Do ponto de vista da pesquisa será importante para estabelecermos prioridades de atuação, tanto em termos de produtos como locais de atuação", comenta Renato de Assis. "É uma contribuição fundamental da Embrapa para a sociedade", completa Adriana Aquino.

A Embrapa Monitoramento por Satélite já realizou estudos preliminares para o projeto. Neste levantamento inicial, foram mapeadas áreas de altitude e, dentre essas, as porções situadas na faixa de declividade do terreno considerada agricultável, além de qualificar os níveis de restrição de uso dessas terras para atividades agrícolas devido a legislações ambientais em vigor. 

Este estudo preliminar é uma entre tantas possibilidades de análise de situações territoriais presentes na agricultura de montanha que serão mapeadas e qualificadas a partir do Site, sendo ainda passíveis de detalhamento em nível de região, microrregião e município. 

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Estudos sobre a Bacia Guapi
Agricultura de Montanha (Embrapa, 2011)
Understanding mountain soils (FAO, 2015)
Nações Unidas/Montanhas 
Mountain Farming (trabalhos na Região Serrana do Rio de Janeiro)
Mountains 2016 (evento em Bragança)
 

Confira também o site da Rede de investigação de montanha da Lusofonia 

Quais fatores responsáveis pelo desenvolvimento da agricultura nas regiões desérticas?

Resposta. Desenvolvimento: Devido ao clima climas árido e semiárido para o desenvolvimento da região, é preciso empregar várias técnicas na área agrícola, como por exemplo: a irrigação, correção, rodízio de culturas, entre outras.

Quais são as atividades da agropecuária?

A agropecuária envolve as atividades humanas destinadas ao cultivo da terra (agricultura) e à criação de animais (pecuária).

O que é a produção agropecuária?

A produção agropecuária consiste em duas atividades primárias principais: a primeira ligada ao cultivo de plantas (agricultura) e a segunda a criação de animais (pecuária).

Quais são as principais características do setor agropecuário?

A agropecuária consiste em um conjunto de atividades econômicas pertencentes ao setor primário. Agropecuária consiste no conjunto de atividades associadas ao cultivo do solo e à criação de animais que tem como objetivo a produção de alimentos e o fornecimento de matérias-primas para a indústria de transformação.